sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Atacama: Soy loco pelo Salar de Tara

O terceiro dia de aventuras por terras Atacamenhas começou cedinho. Oito de la matina van na porta do Campo Base para o Salar de Tara. Taí uma viagem que eu tinha ouvido falar, lido um pouco aqui ó,  assim como pelos  relatos da AAA Rosana Lisauskas, mas como qualquer pessoa que não foi ao Atacama, é difícl entender o que é. O fato é que Salar, Laguna, Pukara e afins pretencem a um vocabulário estranho a viajantes não afeitos ao tema.

Enfim, entro na van que anda 50 metros e pronto: já encontro a Ayla, Bruna e Bira que iriam à mesma excursão. Começou muito bem. E, pé na estrada, subindo, subindo, subindo e quando chegou-se aos 4.000 metros de altura. Parada estratégica para respiração e curtição a vista privilegiada do Licancabur – o onipresente. Estávamos margeando as fronteiras bolivianas e deu até para ver de longe a famosa Laguna Verde aos pés do imponente vulcão. Só isso já justificaria ir até o Atacama. E eu, homem da cidade, sensibilizado com a magnificência do poder da natureza. Com o perdão da expressão, é muito foda.

Mais pé na estrada, com informações bastante precisas do ótimo guia/motorista que nos conduziu nos tapetes que são as estradas chilenas (onde não há pedágios, viu Seu Alckmin e Dona Dilma). Ainda sobre estradas, elas representam um importante canal para transporte de mercadorias. Contei 25 caminhões-cegonha (aqueles que transportam carros) durante o percurso de 270 km entre San Pedro e o Salar só na ida.

Estradas do Chile: Tacabow

Pé no freio e segunda parada. Desta vez, café-da-manhã padrão passeio ao Atacama: bolachas doces, pão, presunto, queijo, sucos tipo Del Valle, água quente, café solúvel e algumas variedades de chá. Não é o desayuno do Sofitel de Buenos Aires, mas satisfaz.

Paramos em um mirante e ao fundo havia pássaros e um rebanho de Alpacas, que nada mais são “Lhamas-mini” e vivem somente acima dos 4.000 de altitude. A simpática figura dos animais esconde seu mundo cruel. Como os leões, existe apenas um macho por rebanho, que possui de 6 a 12 fêmeas. O que quer dizer que existe fêmea demais para macho de menos e também que sobra macho no mercado local. Daí, que a disputa pelo controle dos rebanhos é extremamente feroz e sangrenta.

Reflexões sobre comportamento dos animais feitas, mais pé na estrada até uma última parada de descanso em uma paisagem absurdamente bonita à beira da estrada. O sol estava divino no dia e a luz, única, parecia acariciar as montanhas e vales. Um espetáculo magnífico. Pé na estrada de novo até um desvio que levava à entrada do Parque onde localizava-se o Salar. Alguns trechos lembravam as Dunas de Natal (a cidade, por favor). Aproveitei e ensinei ao motorista o “con emoción” e o “sin emoción” e seguimos até chegar ao parque propriamente dito. Lá fomos recebidos por "estátuas" de pedra esculpidas pelo vento. Eu diria que os ventos da região são “Michelângicos”, pois o conjunto é bonito e harmônico. É neste momento que se avista a famosa pedra El Índio, cuja altura (chutada) deve ser de uns 20-30 metros. A pedra, de fato, se parece com um índio e justifica seu nome.

Reis Nazarenos: É gigante e é  lindo

Seguimos um pouco mais pela estrada de terra até chegar ao Salar propriamente dito. Lá fomos literalmente recepcionados por reis ou algo que o valha. É a melhor definição que encontrei para o conjunto de montanhas que formam um corredor à esquerda e à direita e conduzem ao Vale onde está localizada a lagoa. Parecem reis nazarenos. Só imagens para descrever, mas a energia do local é uma coisa de louco. Agradável mesmo.


Fotos, fotos, caminhadas curtas (estava a mais de 4.000 de altitude e o bicho pega fisicamente), mais fotos, comentários com o guia e colegas de excursão. No papel foi isso, mas a experiência foi muito mais profunda.

Altitude: Batemos os 4.900m. Com ela não se brinca

Apenas como ressalva ao leitor que pretende aventurar-se por aquelas bandas: a temperatura varia de amena para quente no verão, mas o vento dilacera a alma, pois é gelado, muito gelado. Portanto um casaco mais pesado com tecido corta-vento é imprescindível. Outra: folhas de coca. Levem e mastiguem, pois a altitude pega pesado.

Ressalvas à parte, lunch time: alface, arroz, milho e frango com suco de maçã, servidos em embalagem de alumínio e copo descartável. Não há na face da Terra uma refeição tão Alê como essa. Comi que nem um pedreiro enquanto discutíamos com o guia, argentino, sobre a situação atual de seu país. Depois do almoço, mais uma caminhada, fotos, papos, fotos e mais fotos e, finalmente, partimos de volta para San Pedro.

Na volta, tempo seco e sol à frente. À esquerda, porém, chuva torrencial castigando os Andes. A água pára toda lá. E para fechar? Hummm. Acho que foram os 270 km mais bem percorridos de minha vida. Um passeio que vale cada centavo e cada minuto.

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